11/21/2006

Vai pra casa, ministro!

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Waldir Pires completou 80 anos em outubro. Ganhou de presente o maior e mais espetacular acidente aéreo já ocorrido no Brasil. Falou-se no almoço de aniversário com a família em inferno astral, mas já estamos na segunda quinzena de novembro e o ministro da Defesa continua pagando seus pecados a cada novo movimento dos controladores de vôo. Pior de tudo: deu agora para negar o caos com a firme convicção de que não está acontecendo nada anormal nos aeroportos brasileiros. Dia desses foi apontado por um jornalista americano como chefe do “circo aéreo de Monty Phyton”.

Onde isso vai parar?

Sei lá, mas acho que alguém da família do ministro precisa tomar uma providência para demovê-lo do governo Lula antes das festas de fim de ano, a tempo de poupá-lo do linchamento – ainda que moral - nas áreas de check-in Brasil afora. A situação prenuncia-se inteiramente fora do controle das autoridades. Anote aí: vai ter gente embarcando no Natal e chegando no Réveillon. Foi o tempo em que, como dizia Tom Jobim, a melhor saída para o Brasil era o aeroporto que hoje leva seu nome.

Waldir Pires, com aquele seu jeitinho de velho fofo, está visivelmente perdido no tiroteio entre operadores de vôo civis e militares, o comando da Aeronáutica, a Agência Nacional de Aviação Civil, a Infraero, as companhias aéreas, passageiros desesperados e o escambau. Francamente, coordenar tudo isso não é tarefa para um homem de 80 anos por mais honrada que tenha sido sua trajetória política. Falta energia ao ministro, que, diga-se de passagem, está muito bem para sua idade, mas o que está em jogo no momento é a administração do inferno.

Baiano ilustríssimo, Waldir Pires não merece deixar a vida pública enxotado por hordas de turistas revoltados. O homem tem biografia. Iniciou-se na política participando em Salvador do movimento estudantil contra o nazismo. Foi vice-líder na Câmara do governo JK, consultor-geral da República na época de Jango e, junto com Darcy Ribeiro, o último a deixar o Palácio do Planalto após o golpe de 1964. Escapou de Brasília com a ajuda do deputado Rubens Paiva. Amargou exílio no Uruguai e na França, onde, por indicação de Celso Furtado, lecionou Direito e Ciências Políticas em Dijon e em Paris.

Nunca foi muito bom no cálculo de riscos políticos. Derrotou ACM elegendo-se governador da Bahia em 1986 e, dois anos depois, renunciou para concorrer como vice de Ulysses Guimarães à presidência da República pelo PMDB. Uma decepção, seguida de desastre. Recuperou-se em 1990, elegendo-se deputado pelo PDT. Repetiu a dose em 1998 pelo PSDB, passando a militar no PT por discordar da aliança dos tucanos com o PFL. Traz na bagagem a tradição de maior inimigo político de Antônio Carlos Magalhães. Não é pouca coisa.

Pai de cinco filhos, avô de sei lá quantos netos, não é possível que ninguém nessa família vá tomar uma providência urgente para evitar o pior. Se continuar no Ministério da Defesa, Waldir Pires é forte candidato a tirar do colega Saturnino Braga o título de “o homem que desmoralizou a honradez”, conferido por Millôr Fernandes na época que o senador, então prefeito do Rio de Janeiro, transformou a cidade numa esculhambação semelhante à dos aeroportos nesses últimos feriados.

Vai pra casa, Waldir. Isso é trabalho pro Ciro Gomes

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