1/25/2008

A língua dos presidentes

“Eu estou certo de que o dado concreto é que nunca na história deste país, eu estive tão convencido de que...”. Essa frase estranha, claro, nunca foi dita. Mas se alguém pode proferi-la algum dia, esse alguém se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Talvez nunca na história deste país um presidente tenha tido um discurso tão recheado de chavões quanto Lula.Além das expressões prontas, o presidente também abusa das analogias. Praticamente todo assunto, seja economia ou saúde, pode ser expresso em futebolês: “em time que está ganhando não se mexe”, “vamos virar o jogo aos 45 do segundo tempo”...Fernando Henrique não tinha um vocabulário tão prosaico, mas também causou polêmica pelo modo de falar. É que se Lula gosta de usar termos populares, como “urucubaca” ou “peãozada”, FHC usava uma estratégia oposta: abusar de palavras e expressões pouco conhecidas, como “comezinho” ou “defenestramento”. A tática, na verdade, foi roubada de Jânio Quadros, aquele do “Fi-lo porque qui-lo”.A verdade é que pouca coisa sai da boca de um presidente sem que seja aprovada por um batalhão de assessores. Enquanto a imprensa perdia tempo discutindo se as palavras ditas por Jânio e FHC existiam ou não, decisões práticas eram tomadas... Se Lula continua atropelando a gramática e usando palavras esquisitas é porque pesquisas indicam que assim deve ser. A estratégia é a mesma: desviar a atenção de um assunto para uma simples questão vernacular e, no caso de Lula, passar a imagem de homem simples, mas prático, trabalhador, distanciado da afetação das palavras bonitas, dos livros, da escola. É de palavras que o mundo é feito.
Escrito por Luiz Carlos Gonçalves

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