3/21/2011

NEM TODA TECNOLOGIA DO MUNDO FOI CAPAZ DE PREVENIR OS ESTRAGOS E SALVAR AS VÍTIMAS DO TERREMOTO E DO TSUNAMI NO JAPÃO.

NEM TODA CIÊNCIA SERÁ SUFICIENTE PARA CONTER OS EFEITOS NOCIVOS DAS USINAS ATÔMICAS QUE EXPLODIRAM SOB OS IMPACTOS DA NATUREZA.

OS NÚMEROS DA TRAGÉDIA NO JAPÃO SÃO IMPACTANTES E DÃO A EXATA DIMENSÃO DAS PERDAS NO ARQUIPÉLAGO. PORÉM, A MAIOR AMEAÇA NÃO VEM DA NATUREZA, MAS DA USINA ATÔMICA DE FUKUSHIMA.

ENQUANTO OS 50 TÉCNICOS DE FUKUSHIMA TENTAM SALVAR MILHÕES DE VIDAS, OS DOIS PODEROSOS DO JAPÃO TENTAM FUGIR DA RAIA.

TECNOLOGIA X NATUREZA

Nem toda tecnologia do mundo foi capaz de prevenir os estragos e salvar as vítimas do terremoto e do tsunami no Japão. Nem toda ciência será suficiente para conter os efeitos nocivos das usinas atômicas que explodiram sob os impactos da natureza. Mais uma vez, os fenômenos naturais mostraram a sua força. Mais uma vez, o homem e todo o seu conhecimento mostraram sua fragilidade diante dos seus próprios experimentos. Existe uma grande diferença entre os impactos naturais e os impactos da ação humana. Os terremotos e tsunamis chegam, destroem e vão embora. As usinas atômicas, durante anos, emanam, silenciosa e sorrateiramente, radiações que contaminam o solo, o ar e as águas, penetrando nas entranhas dos seres vivos, matando aos poucos e indiscriminadamente, crianças, homens, mulheres e animais.

CHERNOBYL

Os impactos das usinas atômicas de Fukushima e Chernobyl são muito diferentes da força do tsunami que varreu a Tailândia em 2004. Passados seis anos, a Tailândia, apesar do trauma e das perdas, conseguiu reconstruir as áreas devastadas e reorganizar a vida social dos lugares afetados. Chernobyl, ao contrario, virou uma terra fantasma. Até hoje, passados 25 anos, constitui uma ameaça à vida. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que 5.000 pessoas da região foram diagnosticadas com câncer de tiroide. Além disso, outras 9.000 pessoas apresentaram outros tipos de câncer. Chernobyl também é responsável por graves consequências sociais: a evacuação de 116 mil pessoas nas áreas próximas e outras 230 mil das zonas altamente contaminadas. São 346 mil pessoas que tiveram que abandonar suas casas, suas histórias e suas relações sociais, e ainda suportar, nos seus novos habitats, o estigma de serem chamadas de “contaminadas”.

FUKUSHIMA

Os números da tragédia no Japão são impactantes e dão a exata dimensão das perdas no arquipélago. Porém, a maior ameaça não vem da natureza, mas da usina atômica de Fukushima. Lá, 50 técnicos tentam evitar o derretimento de urânio de reatores danificados pelo terremoto. O temor de contaminação levou os moradores das cidades próximas a buscar refúgio em outras cidades. Entre os 800 funcionários da usina atômica, 750 foram retirados depois da explosão de hidrogênio no reator 2, do incêndio no reator 4 e das explosões nos reatores 1 e 3. Os “50 de Fukushima”, como vêm sendo chamados pela imprensa, trabalham usando roupas especiais, mas não estão livres dos riscos de contaminação. Enquanto 50 vidas tentam esfriar os reatores, o premiê Naoto Kan acusa a Tokyo Eletric Power Co., empresa responsável pela administração da usina. São 50 heróis tentando salvar milhões de vidas e dois poderosos tentando fugir da raia.

MAIS DE 439 USINAS NO MUNDO

Pesquisa do Internacional Atomic Energy Agency, publicada em 2004, mostra que o mundo tinha, em dezembro de 2003, um total de 439 reatores em operação e 31 em construção. Deste montante, 104 estariam localizados nos EUA, 59 na França, 53 no Japão e 30 na Rússia. Na época, estes reatores eram responsáveis por 16% da eletricidade do planeta. Atualmente, a França saltou de 53 para 58 reatores, que respondem por 75% da energia elétrica consumida no país. Na União Europeia, atualmente, existem 147 usinas nucleares operando em 13 dos 27 países do bloco.

IDEIAS ATÔMICAS

O episódio Fukushima despertou reações entre os líderes mundiais. Obama disse que as centrais nucleares do país são monitoradas de perto e aguentam impactos. Na França, o presidente Sarkozy descartou a possibilidade de abandonar a energia nuclear que, segundo ele, é mais barata e menos poluente. Somente na Alemanha, a premiê Angela Merkel decidiu fechar 7 dos seus 17 reatores. Enquanto isso, os “50 de Fukushima” estão sozinhos tentando solucionar um problema que, apesar de conhecerem bem, está fora de controle. Um controle que nenhum dos líderes mundiais pode afirmar ter. Até porque todos eles são líderes de países ameaçados por abalos sísmicos que podem afetar suas usinas num piscar de olhos.

ARROGÂNCIA

Enquanto os líderes mundiais se apressam em colocar panos quentes no problema e reafirmar a importância dos seus projetos nucleares, a humanidade se vê aterrorizada com os perigos da irradiação atômica e seus efeitos nefastos à vida. Hoje, o perigo está no Japão – assim como já esteve em 1945. Em 1986, o pavor aconteceu em Chernobyl. Há 25 anos, ele ocorreu nas ruas de Goiânia, por absoluta falta de prevenção e cuidado das autoridades. Fukushima está nos mostrando que mesmo uma nação madura, organizada e culta não está preparada para enfrentar um vazamento nuclear. A maior ameaça não vem da natureza. Ela vem da arrogância de interesses poderosos e pode contaminar o ar. Não tem cheiro, não tem cor e não tem forma, mas destrói e mata tudo ao seu redor.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE

“Atualmente, mais de 5 milhões de pessoas vivem em zonas contaminadas com material radioativo. Muitas delas sofrem níveis elevados de ansiedade, sintomas físicos muito diferentes e sem explicação médica. Têm também uma saúde mais frágil em comparação com os habitantes de áreas não expostas à radiação”.


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