3/22/2011

Dilma & Obama


Não foi um mero encontro entre estadistas a visita que o presidente dos Estados Unidos (EUA), Barack Obama, a Dilma Rousseff, no fim de semana. A reunião vai muito além do simples protocolo de boas relações diplomáticas. Além disso, não foi por acaso que o americano programou que o encontro ocorresse justamente agora, quando ambos os países precisam blindar suas moedas e ficar de olhos bem abertos para o desfecho que o tsunami japonês poderá contabilizar pelo planeta. Mais do que nunca, é preciso que os chefes de governo passem a somar, e não dividir, para consolidar seus próprios interesses na economia, que, mais uma vez, corre perigo.Cenário da tragédia, o Japão está colecionando, dia após dia, o vermelho também em sua economia. As montadoras, para citar apenas um exemplo, são a bola da vez. A indústria automobilística nipônica está acionando o painel de alarme, como a Toyota, que suspendeu a operação de suas 12 unidades em solo japonês. Já a Honda interrompeu toda a produção no país, a exemplo do que ocorre também com a Nissan. O clima é de ansiedade, como demonstrou Tom Byrne, executivo da Moody: “As consequências econômicas parecem ser maiores do que a gente esperava no início”.O que se constata é que a economia dos EUA, da China e da Europa pode sofrer abalos, como em um efeito dominó, a partir das perdas também econômicas presenciadas no Japão. A estimativa dos especialistas é que os japoneses terão de aplicar 15 trilhões de ienes (cerca de US$ 180 bilhões) na reconstrução de sua infraestrutura. Os prejuízos diretos e indiretos causados pelo terremoto e pelo tsunami podem superar em 50% os danos causados pelo tremor que destruiu a cidade de Kobe, em 1995, e representam 3% do PIB do país. Os japoneses, sempre de olhos fechados, estão abrindo-os diante da situação, que não é nada fácil, muito pelo contrário. Um exemplo bem claro disso foi sinalizado pelo Banco do Japão (BOJ) – o equivalente ao Banco Central brasileiro –, que ampliou na segunda-feira passada sua injeção de liquidez de urgência para o recorde de 15 trilhões de ienes (cerca de R$ 304 bilhões ou US$ 60 bilhões), a maior da história.

Dessa forma, com o crédito liberado, a expectativa é que o programa de compra de ativos, ao se injetar recursos no mercado diário, viabilize a manutenção do iene estável diante da moeda americana. A estimativa apontada pelos economistas é que a queda menor do PIB japonês (0,5%) poderia causar um impacto bem inferior ao que estava previsto. Já com relação à inflação global, prevalece um clima de otimismo em um cenário de curto prazo, com a desaceleração do crescimento econômico em nível mundial, o que contribuiria bastante para a redução da pressão inflacionária, como aconteceu com a queda dos preços do petróleo.Apesar da crença nacional de que Deus é brasileiro, a economia do Brasil já está pronta para contabilizar prejuízos depois do desastre no Japão, isso porque o terremoto asiático causará abalos e oscilações também por aqui. Um exemplo deve ser a perda na exportação de minérios, um insumo básico para a siderurgia, e o Brasil ocupa a segunda posição no ranking de exportação de aço no mundo. No ano passado, as exportações brasileiras para o Japão foram de US$ 7,140 bilhões, e foi justamente o minério de ferro que contribuiu para esse total, com 45,8%, o equivalente a US$ 3,271 bilhões, de acordo com informações registradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

A geopolítica na América Latina tem um forte componente para a atual gestão mundial. Seguindo a cartilha das relações internacionais americanas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, optou por visitar apenas o Brasil e o Chile. Países que ele pretende apresentar como exemplos de consolidação de transição democrática a ser seguidos pelos países árabes. Trata-se de uma estratégia da Casa Branca para cooptar os líderes do Oriente Médio e do Norte da África para despertar neles, finalmente, a necessidade de implantar regimes democráticos em seus governos, acabando com os déspotas, a exemplo do ditador da Líbia, Muammar Kadafi.A propósito da visita de Obama ao Brasil, Daniel Restrepo, conselheiro-adjunto de Segurança Nacional do governo americano para Assuntos Hemisféricos, fez um pronunciamento, no qual mencionou inclusive o passado de Dilma Rousseff na guerrilha, sua prisão e tortura pelo regime militar brasileiro nos anos de chumbo: “A presidente Rousseff representa, por si mesma, o sucesso de transição democrática brasileira”. Diante de tudo isso, o presidente Obama incluiu o assunto em sua agenda no encontro , porque está determinado a contribuir para que os ditadores não continuem ocupando tanto espaço no mundo árabe.

O ambiente para a conversa dos dois presidentes neste fim de semana foi pavimentado. O próprio chanceler brasileiro, Antônio Patriota, em encontro com sua colega americana, Hillary Clinton, afirmou que o governo brasileiro está disposto a cooperar no processo democrático nos países árabes, quando esteve com ela em fevereiro. O desembarque do presidente americano em Brasília poderá proporcionar a retomada das boas relações entre os dois países, depois do curto-circuito causado pelo voto brasileiro contrário às sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU, em maio do ano passado.

No Palácio do Planalto e no Itamaraty, antes do desembarque do presidente americano, o clima era de cautela sobre os resultados da visita, como, por exemplo, o apoio americano ao Brasil em um órgão da ONU. A Casa Branca sinalizou que os EUA não se comprometeriam a dar esse apoio para assegurar a representação brasileira, como ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A Casa Branca argumentou que já tinha contribuído muito com o país para ocupar maior espaço na política global. Na quinta-feira, os americanos ressaltaram que o governo de Barack Obama fez pressão, com sucesso, para que países como o Brasil tivessem um papel maior nos assuntos econômicos internacionais. Segundo a Casa Branca, Obama também defendeu com determinação que o G-20 se tornasse o principal foro de cooperação.

Agora, resta ao país aguardar para saber o que trouxe o homem mais poderoso do mundo para uma visita ao Brasil.

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