5/05/2008

FILHOS DA VIOLÊNCIA

- Os pais são os principais agressores contra crianças e adolescentes

Os pais são os principais agressores contra crianças e adolescentes. Essa constatação pode ser verificada na página da internet que mantém atualizadas as denúncias dos Conselhos Tutelares de todo o país, enviadas ao Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia). São 186.415 registros, de 1999 até o final abril deste ano.
Constata-se também, que os números de agressões contra crianças e adolescentes, também são altos pelo Disque 100, sistema que permite que qualquer um faça denúncias, inclusive anônimas. Em números absolutos, os casos de agressão por negligência ou agressão física e psicológica são 54.889 dos 111.807 registros. Isso representa 67,40% do total. Entre os registros, 242 são denúncias de violência com morte da criança ou do adolescente.
Em uma pesquisa elaborada pelo Laboratório de Estudos da Criança da USP, feito entre 1996 e 2007, constatou a existência de 159.754 casos de violência doméstica. E também concluiu que aproximadamente 10% dos casos de abusos e violência contra crianças e adolescentes são denunciados.
Diante das estatísticas, especialistas em questões da infância, consideram que casos como o da menina Isabella Nardoni, morta tragicamente aos 5 anos, é sinal de um país ainda tolerante com a agressão contra crianças e adolescentes. Para o integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Ariel de Castro Alves, os dados revelam que a violência contra a infância é generalizada no Brasil e que há muita tolerância para com ela, isso faz com que as pessoas se sintam menos à vontade para denunciar. “Devemos tratar do caso da menina Isabella e, a partir dele, refletir com toda a sociedade brasileira. Os números mostram que a violência contra a infância e a juventude é generalizada e, muitas vezes, a violência ocorre exatamente nos locais em que elas deveriam receber proteção, que são os lares, escolas e creches”, declarou Ariel. “Não é só a família a responsável por garantir os direitos da infância e juventude, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que é um dever de todos: da família, do Estado e de toda a sociedade brasileira”, acrescentou ele.
Ao comentar o papel da imprensa no caso como o da menina Isabella Nardoni, morta violentamente aos 5 anos, a coordenadora do Programa de Enfrentamento à Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Leila Paiva, avaliou que a mídia cumpre seu papel de informar, embora considere que o faça de forma direcionada. Para ela, o motivo é a falta de critérios dos setores responsáveis pelas investigações na hora de falar do caso. “A imprensa é um grande aliado, na maioria das vezes, e cumpre seu papel de disponibilizar as informações para a população, mas os outros setores de atendimento e responsáveis pelo procedimento de investigação e responsabilização é que têm que triar quais são os momentos adequados para disponibilizar determinadas informações”. Quando indagada a respeito da cobertura da imprensa no caso Isabela Nardoni, atribuiu ao fato de que os acontecimentos que acorrem no eixo Rio-São Paulo, sempre tem mais repercussão na imprensa. “Eu acredito que o que ocorre nesse eixo acaba tendo dimensão nacional. Falar de São Paulo é falar de 30% da população do país... acrescentou.
Aquele que deveria ser um ambiente saudável e apropriado ao desenvolvimento das crianças acaba se tornando um reduto hostil e de difícil intervenção da polícia, pela privacidade que o cerca. As crianças e adolescentes que sofrem agressões, tem muito mais chances de desenvolver problemas comportamentais, e essa violência provavelmente será reproduzida em outros ambientes, formando assim um ciclo ininterrupto de violência.

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